Governo do Estado menospreza mudanças climáticas, e resultado é nova tragédia no RS
Cerca de seis meses depois de uma enchente que matou mais de 50 pessoas apenas no Vale do Taquari, o Rio Grande do Sul vive novo cenário de calamidade pública. Ao se solidarizar com as famílias que vem sendo atingidas, o SEMAPI chama a atenção para o fato de que o governo do Estado – ciente dos desafios e da necessidade de investir em estruturas que minimizem os efeitos das mudanças climáticas – segue priorizando discurso à ação.
Ainda em 2023, o governo do Estado anunciou um orçamento de R$115 milhões para o enfrentamento de eventos climáticos. No entanto, o que não especificou foi que o valor é a soma total de recursos de três secretarias, do Corpo de Bombeiros e, por fim, a Defesa Civil, misturando esta última com toda política para eventos climáticos extremos. Já no Orçamento 2024 aprovado, o recurso relevante previsto é de R$2,5 milhões para qualificar o Centro de Operações da Defesa Civil – um valor que não chega nem perto do necessário para resolver as deficiências estruturais.
A Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura, que dentre duas atribuições deve monitorar os níveis das águas, dos rios e das chuvas, dispondo inclusive da Sala de Situação, sofre com falta de pessoal, estrutura e equipamentos. Enquanto isso, a EMATER/RS-ASCAR, importante entidade governamental com capilaridade em todo o Estado, também não foi acionada para auxiliar na preparação de lideranças locais para lidar com novos episódios, trabalho que está no cerne do serviço prestado – e que técnicos e técnicas têm condições de prover com excelência.
Além disso, é dado público que a maior parte dos recursos é liberada em ações paliativas e de reconstrução, o que demonstra a ineficácia do governo em investir em uma cultura de prevenção. Não há valores destinados, por exemplo, a novas estações de monitoramento – algumas, inclusive, inutilizadas pelas chuvas do último ano, sem que se tenha notícia de que as estruturas tenham sido recuperadas. Trabalhadores e trabalhadoras das defesas civis, muitas vezes, colocam dinheiro do próprio bolso para resolver questões, o que é inconcebível. Por fim, a extinção de seis Fundações Públicas, dentre as quais ao menos três delas – Cientec, FZB e Metroplan – com interface direta em questões ambientais, desenvolvimento de ciência e tecnologia e capacidade de planejamento e articulação de políticas públicas, mostra como o governo encara a questão.
Precisamos de menos conversa e mais ação por parte do governo. Não há mais tempo para colocar em curso um plano preventivo. Ferramentas e instrumentos legais de planejamento ambiental, elaborados por colegas de áreas técnicas e científicas, tais como aqueles elaborados pela Fepam, devem ter suas ações implementadas. O SEMAPI vai cobrar até o fim o executivo para que se organize e realize, efetivamente, medidas que cuidem da população, garantindo segurança frente a eventos que devem ser cada vez mais frequentes. Nossas vidas têm valor!
Foto: LEANDRO OSÓRIO/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO